Estávamos nós dois deitados no quarto. Ela não estava me abraçando, mas eu podia sentir seus pensamentos ecoando no quarto. 

- O que faremos? - ela perguntou, referindo-se a minha aprovação na universidade. 
 Eu fingi que dormia, mas ela me conhecia demais para cair nessa e ainda assim deixou para lá.

 Já eram três anos. Fomos amigos, ficantes, inimigos, amigos novamente, namorados, parceiros e amantes. Até a casa era nossa, não minha. Eu não queria que fosse minha e ela não queria que fosse dela. Nós não tínhamos esse problema. 

 Ela sabia que eu não estava preso ali. Não éramos casados. Eu havia pagado minhas contas e ela as dela. Meus pais não moravam na nossa cidade, meus pais não moravam mais aqui. Éramos nós dois contra o mundo. 

 Conversamos sobre a faculdade, eu só não tinha dito que era longe. Ela me seguiria para onde eu fosse, mas isso não era justo.

- O que faremos? - ela perguntou de novo e depois afirmou:
- você vai me deixar. Não tem mais nada aqui.
 Aquilo doeu, mas eu não respondi. Ela me conhecia, sabia que aquilo doeria. 

O dia amanheceu, mas eu sabia que ela não tinha dormido porque eu também não tinha. 
 Ela levantou e foi fazer o café. A rotina começou. Nós não conversamos e eu não conseguia saber se ela estava com raiva, triste ou se já tinha tomado uma decisão. As vezes era impossível ler aquela mulher. 

 Fui trabalhar e as fotos dela estavam espalhadas pela sala vermelha, onde eu podia fazer meu trabalho e ainda revelar nossas fotos. Ali parada, com um sorriso sonolento no rosto ela parecia ser o infinito. Meu infinito particular. 

 A minha menina era um infinito de sonhos, de felicidade e de vontade. Eu tentei deixa-la porque ela é tão incrível que o medo que tive de estragar aquilo foi grande demais, mas ela tem um tipo de gravidade. A voz suave e sincera que eu ouço me chamar para a cama simplesmente me guia e eu não saio de lá até ela dizer chega.

 Cheguei em casa com um pensamento. Deitei na cama e a esperei. Ela sempre chegava antes de mim, mas hoje ela demorou mais tempo e, quando abriu a porta, vi seus olhos vermelhos e ri da cara dela.

- Você é um idiota e um egocêntrico. Deveria ter me contado tudo.
- Me faz aquela pergunta.
 Ela me olhou confusa e suspirou.
- O que faremos?
- Nada. 

Absolutamente nada. Eu a seguiria a partir de agora. Eu iria para onde ela quisesse porque percebi que eu não queria me distanciar. Não era um sentimento besta e não era uma decisão fácil de se fazer. Ela era o meu caminho e era para lá que eu iria.


- Isabela Gomes

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