Não acho que você mereça um texto, mas vamos lá. Você era super popular entre todos, sempre foi. Só que de início eu era tão ingênua, naquela fase de deslumbramento onde não enxergo nada demais nas coisas, e fico tipo num piloto automático sabe? Isso não mudou muito, mas quando eu desperto, vejo coisas que não via antes. E você, bem...

Extremamente inteligente, criativo, gostava de brincadeiras e de mandar. Fiquei muito feliz quando você me deixou participar da sua brincadeira, e por ter feito parte do seu grupinho. Tempos depois, eu criaria meu próprio grupinho e faria tantas coisas nele, que isso mudaria minha vida. Viu só? Até que você não foi assim tão irrelevante. 

Então estávamos nessa brincadeira boba, trabalhando juntos, e eu levando a sério como sempre. Muitas brigas, zoeiras, indiretas, juventude, e ainda assim, éramos só colegas que trabalhavam juntos, nada demais. E então, alguma coisa mudou. Ou talvez foi só que acordei e vi mais do que estava vendo. Passamos a nos falar mais. E bem, eu gosto de conversas estimulantes, mas as suas eram bizarras. Estimulantes, curiosas, e bizarras.

Não diria que cheguei a gostar de você num sentido estritamente romântico, mas foi legal ver um cara bacana de vez em quando, por baixo dessa sua superfície toda. E ajudava a gente ter tantas coisas em comuns, tais como o amor por sagas épicas. Quem diria que por trás das suas piadas e da fama de galinha, existia um ávido leitor aí dentro? Um grande poeta. Deveria ser óbvio pra todos, porque apesar dos momentos de imaturidade e irresponsabilidade, você ainda tinha essa aura de organização e seriedade quando se tratava de algo que gostava. 

Será que os seus amigos mais íntimos sabiam que por trás de toda essa máscara, você era apenas um garoto que queria receber uma cartinha de Hogwarts? Que queria viver mil aventuras, e estava disposto a criá-las? Eu duvido que eles te conheciam tão bem, você tinha essa pose de "durão", sabe... você me deixou por meses achando que não tinha sentimentos. E quem diria hein, você tinha - alguma dose pelo menos.


No final do dia, somos o que somos, certo? Você era um misto de completa (palavras censuradas) com um copo de água com açúcar. Você tinha essa paixão por livros, pelas histórias, e eu assim, UAU!? O seu lado romântico e poeta, no final das contas. Seu sorrisinho, suas covinhas, me enchendo o saco porque queria ouvir minha voz e ver meu rosto, querendo uma chamada de vídeo só para não se sentir sozinho (ou, ai meu D, você realmente, realmente sentia minha falta e só queria ter mais contato?). Eu ria tanto contigo, e às vezes, por mais popular e amigos que tivesse, parecia tão sozinho. Mas por que eu acabei vendo isso? Não sei.

Sério, não sei como, mas tenho lembranças da gente se falando por horas e horas e horas. Você me ligaria pra contar alguma coisa do seu dia ou se gabar de mais uma de suas conquistas. Era tão nojento a forma como você tratava as garotas, e como elas deixavam isso. É estranho pensar nisso porque não diria que senti ciúmes de você com elas, era um leve incômodo porque... você tava sempre em algum rolo com pelo menos duas ao mesmo tempo.

Sabe quantas mensagens de meninas eu tive que ler por sua causa? Elas estavam curiosas com essa nossa amizade, porque de repente, só por um breve momento, éramos eu e você. Bizarro, ne? Tinha um "nós" ali, bem distorcido. E elas vinham falar comigo, querendo saber se rolava algo entre nós, e depois das desconfianças iniciais, me pediam dicas pra saber mais sobre você. 

Me lembro de uma, acho que seu sobrenome era Sparks ou algo parecido, que acabou se tornando uma colega. Não amigas, mas ok, colegas. Ela me contaria sobre o quanto gostava de você, que estava sofrendo, que não sabia mais o que fazer. E eu só tipo, "mano, o que eu digo?". Talvez eu tivesse um leve interesse em você, e se as coisas tivessem sido diferentes, penso que poderia ter me apaixonado.

O que posso dizer? A sua tatuagem do Tolkien me derreteu. Você podia ser o pior canalha em se tratando de sentimentos, mas quando você começava a falar do nosso mestre, seus olhos brilhavam e você sabia que eu te entendia. Ah, como eu entendia... Achava fascinante o fato de que você aprendeu sozinho a língua dos elfos, e eu tenho um fraco por caras inteligentes que estão sempre estudando e aprendendo coisas novas - mesmo que seja um idioma fictício que tecnicamente não existe.


E então você começou a namorar, e por um momento achei que estava sério e desejei que fosse feliz. Quando achei que ia mudar, não... você tinha que continuar com suas piadas sujas e rir de mim porque eu tinha algo que você gostava. O que me surpreendia era sua namorada deixar... Credo. Sabe, patético, na minha opinião. 

Você me contou dos livros que pretendia publicar, das suas histórias. Me pergunto se conseguiu realizar esse sonho. Me lembro que me contou alguma coisa, não sei o que era, e acabei contando pra alguém. Será que contei que você escrevia livros? Não lembro mesmo, não sei se foi de propósito, porque não sou assim sabe... de verdade, levo a sério o que me contam. Provavelmente, foi aquela situação onde você me contou uma das várias coisas que ninguém mais sabia, e você confiava em mim e o fato de eu ter quebrado sua confiança ao contar pra outro te fez ficar meio... distante. 

Você não queria mais conversar. Não queria mais ouvir minha voz, e nem eu a sua. E isso nem deve fazer mais diferença, já fazem anos e isso é tão insignificante. Mas sinto muito por trair sua confiança, ok? Me lembro que você reclamou disso, por que você reclamou? Não é como se tivesse dito, "ei, não conte pra ninguém". Tanto faz. Sinto muito. Não achava que significava muita coisa na época, e talvez eu devesse ter valorizado mais sua amizade. Ou no caso suas confidências. Só admita, você também teve seus momentos de escrotidão. E sim, eu gostava levemente da nossa amizade e tentei retomar ela. 


Só que depois disso, você passou a me tratar como se eu fosse nada. Sem mais telefonemas, sem mais risadas, nada. Porém, teve uma parte boa em tudo isso, porque acabei tocando pra frente minhas próprias ideias, e meio que indiretamente inspirada nas suas. É isso. Espero que esteja bem, seja lá como for. E por favor, que tenha aprendido ou aprenda a respeitar mais as mulheres. Algumas das suas merdas eram engraçadas, confesso, mas outras eram realmente... se eu não fosse sua amiga na época, teria te mandado pra um lugar bem inapropriado.

Adeus;

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