Uma explicação
De todas as pessoas que passaram pela minha vida, você não é a que eu mais devo uma explicação. No entanto, sim, eu te devo uma bela de uma justificativa. E tenho certeza que você um dia vai acabar lendo isso, não por eu divulgar, mas porque você me conhece e tem acesso ao que faço, mesmo que indiretamente.
Você é mais uma dessas pessoas das quais não sei explicar como foi que nos conhecemos. Sei que tínhamos esses amigos em comum, e de repente assuntos que eram do grupo passaram a ser nosso assunto. Também não sei como a gente começou a namorar, mas olhando pra trás me parece tão natural. A gente se falava o tempo todo, e mesmo quando eu estava em aula ou em outro lugar, sabia que você estava a um clique de distância.
Eu era apaixonada por você. Você era meu melhor amigo, a pessoa em quem podia se confiar, eu contava tudo...só que sempre sentia que faltava algo. Queria que tivesse dito mais vezes que me amava. Hoje eu entendo que era seu jeito, você não é do tipo que fica se declarando ou coisa e tal. Mas isso me irritava, sabe? Depois de você, eu tive um namorado que era incrível, ele me dizia que me amava e me marcava em vários posts fofos.
Você não, e nem te culpo por isso. Sabe qual era o problema? Éramos muito jovens, e eu era extremamente imatura. É até curioso como você me aguentou durante tantos anos, porque alguém como você, que parecia tão seguro de si e tão seco às vezes... digo, você não era de sentimentalismo, você odiava isso. Romance? Não, você não é desses. Nós tínhamos um bom papo e a gente se curtia, era o suficiente.
Como conseguíamos ter tanto assunto? Não, sério... era bizarro, porque por mais distante que estivéssemos fisicamente, parecia que você tava no mesmo local. A gente dizia o que estava fazendo, o que estava comendo, lendo, ouvindo. Como você aguentava isso? Acho que por isso você não fazia demonstrações públicas, porque não queria que ninguém soubesse que uma garota mexeu com seu mundo?
É desgastante, sabe? Lembro de uma vez que você foi a uma festa, eu não queria que fosse. Sentia que algo ruim ia acontecer, e te implorei pra tomar cuidado. Estava com ciúmes, com raiva, porque eu queria ir contigo e não podia. E depois você confessou que ficou com sua prima. E você ficava agindo como se não fosse algo tão grande, mas você quebrou a confiança que tínhamos. E toda maldita vez você acabava jogando a culpa pra cima de mim pelas nossas discussões.
Você reparou que tínhamos um padrão? Por mais que você dividisse a contra gosto uma parte da culpa comigo, no final você ia de novo agir como se só eu falhasse, só eu precisava me esforçar, mais e mais. Eu que tinha que te ligar, eu que tinha que abdicar dos meus planos e sonhos para caber nos seus. Foi assim que me senti.
Sentia como se amasse você demais, tanto, que não sobrava amor pra mim. E quanto ao que eu queria? E quanto ao que eu sentia? Dediquei anos da minha vida a uma pessoa que nem sequer me apresentava direito aos seus amigos, era uma rápida apresentação e pronto.
Me sentia alguém até indesejada em alguns momentos, sabe? Como se eu devesse te dar o espaço que tanto queria. A gente tentou continuar amigos, mas era difícil porque tudo acabava voltando para a última briga e a distribuição de culpa. De quem foi a culpa pelo fato de não sermos mais namorados? E no fundo no fundo, como a gente ainda se gostava, era complicado.
Imagine minha surpresa quando você, anos depois, passou a ser exatamente aquilo que idealizei. Cá estava eu, seguindo minha vida, meus planos e sonhos, e aí você vem e se declara. Que eu ainda era o amor da sua vida. Que ainda queria casar comigo. Você se lembra do que disse? Que era só eu falar que sim e a gente casava, dava um jeito. Você me disse todas as palavras que aquela garota lá atrás queria ouvir, mas já não sou mais ela, sou?
Sabe o que me incomodou? Novamente, não parecia que quem ia abrir mão de algo era você, quem mais ia ter que abrir mão de algo? Eu. De novo.
Só lamento muito por cada beijo que deixamos de dar, cada abraço que desperdiçamos. Parece tão injusto isso, ne? Naquele momento, nosso amor foi eterno enquanto durou, e foi mais do que muitos relacionamentos por aí, mesmo com as brigas e imaturidades.
Você se casou, teve um filho lindo, e fico tão feliz toda vez que vejo alguma foto. Quando você disse que ia se separar da sua esposa, e que não aguentava mais, fiquei muito mal por vocês. Eu estava em mais uma crise de ansiedade infernal, e lá estava você, tentando me ajudar, me acalmar, me consolar. Só que eu não podia fazer isso, tinha certeza que você ia voltar pra ela e precisava ser assim.
Foi por isso que parei de responder suas mensagens, porque não podia ser sua amiga. Tinha medo de você querer algo a mais, e eu não ia dar isso. Por respeito a mim mesma, a você, ao seu filho (que acho que nem era nascido na época), mas principalmente por respeito a ela.
Então, se você me falar que superamos isso, todos esses sentimentos, e que podemos ser amigos mesmo, aceito. Fico louca pra mandar uma roupinha de bebê pra ele. Eu superei, você superou? Podemos realmente ser só amigos e nada mais? Sua esposa está ok com isso? Somos todos maduros nessa situação?
Essa é a minha explicação, e não quero dá-la ainda. Um dia, a gente se acerta. Até lá, siga em frente, porque eu já segui.
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